Ee blog terá, pelo menos duas vezes por semana, as minhas opiniões e comentários sobre desporto – sobretudo automobilismo – e sobre a vida nacional (portuguesa e brasileira) e internacional, com a experiência de 52 anos de jornalismo, 36 anos de promotor e 10 de piloto. Além de textos de convidados, e comentários de leitores.

terça-feira, 24 de junho de 2014


MUNDIAL NO BRASIL: VERGONHAS SEM FIM

Já editei e publiquei dois livros sobre o assunto, com texto pesquisado e escrito brilhantemente por um dos mais conhecedores jornalistas brasileiros, José de Almeida Castro, e comecei a escrever sobre futebol em janeiro de 1961.

Creio que nunca na história dos Campeonatos do Mundo de Futebol, se terá passado tanta vergonha. Generalizada. Com responsabilidade de tanta e tão variada gente que atá já se terá tornado banal, esperada, infelizmente passada despercebida ou merecedora do alheamento do povo, dos adeptos que, como os jogadores são os principais atores deste fenómeno social. Tão mundial que está à mercê da ganância, da politicagem, da malandragem, da corrupção, como se vê a toda a hora. Em vários países. Sobretudo nas instâncias últimas do jogo – a FIFA.

 

12 estádios – para quê?

Tudo começa na loucura da FIFA ter imposto a existência de 12 estádios, desde Porto Alegre a Manaus, Fortaleza e Natal. Pergunto – e respondo, como promotor de eventos: não dava realizar este mundial com, no máximo, nove estádios? Claro que dava, pois, por exemplo, os de Cuiabá, Curitiba, Manaus e Natal têm esta semana o último dos seus quatro jogos. Realizar jogos no mesmo estádio com dois dias de intervalo é viável. Mais difícil para quem faz o calendário, mas totalmente possível.

Fazer um estádio em Manaus que custo € 200 Milhões para quatro jogos do mundial? E depois do mundial – como vai suceder ao de Brasília com custo semelhante – para receber a pífia média de espetadores dos jogos estaduais que não chega a 500 espetadores, segundo peça da revista Veja? Mas o que isso importa à FIFA?... à semelhança da UEFA, nada. Olhem para os estádios do Europeu 2004, em Portugal. Para que serviram os estádios de Aveiro e Leiria. E até mesmo o de Faro? Para aumentar a nossa dívida e para encher os bolsos das construtoras. E agora? Para o continuarmos a pagar, a sua manutenção.

Uma vergonha. Que está a ser paga pelo povo brasileiro o povo pagar, carente de melhor educação, melhores infraestruturas de saúde e de tudo o mais. Como tem justamente reclamado e que – espanto meu – pouco se manifestou durante o campeonato, fruto da repressão policial.

Claro que 12 estádios, para servir o clientelismo estadual, e para encher os bolsos da FIFA, das construtoras apoiantes dos políticos brasileiros e de muitos intermediários.

Por isso, nada melhor que agora eleger para senador pelo Estado do Rio de Janeiro, Ronaldo Fenómeno, que teve frases sensacionais como “cacete neles”, referindo-se ao povo manifestante, e que “mundial não faz em hospitais, mas em estádios”.

Vergonha – mais uma – para a política brasileira.

 

Horários inacreditáveis

Que vergonha marcarem-se jogos para as 17h locais em Manaus, com temperaturas e humidade elevadíssimas (segundo o médico responsável pela seleção nacional, jamais superiores a 27º, o que desmente todos os jornalistas internacionais). Como é possível um jogo entre dois campeões mundiais (Uruguai e Itália) que decidiria o afastamento de um deles ter sido marcado para Natal, para as 13h locais – com iguais condições atmosféricas da capital amazonense, onde a Itália já tinha jogado (outro absurdo)?

As audiências televisivas na Europa seriam muito menores se os jogos fossem mais tarde? E, se fossem um pouco menores? Os jogos, os espetáculos – que são o que interessa – teriam certamente sido muito melhores pois os “palhaços” a serviço das seleções e da FIFA não teriam de suportar condições tão adversas. Claro que sabemos que, por vezes, como o médico da seleção portuguesa hoje apontou, a temperatura em Sevilha pode ser igualmente elevada. Mas, a humidade, nunca. E, nesses dias de verão andaluz intenso os jogos disputam-se à noite.

Mas, o bando sob comando do Sr Blatter, e os subservientes Comitês Organizativos (agora o brasileiro) ao seu serviço têm outros interesses como o vêm demonstrando há muitos anos. Inclusive – embora em muito menor grau – já desde a presidência de João Havelange.

 

Arbitragens lamentáveis

Assisti até agora a todos os jogos deste mundial. Não houve um em que não fosse deixado de marcar uma penalidade máxima e/ou ~tomada uma decisão errada na amostragem (ou não) de um cartão vermelho. Sempre, claro, com consequente influência na atuação das equipas e no resultado.

Hoje, mais uma vez, o cartão vermelho ao italiano Marchisio foi forçado, enquanto faltaram as marcações de dois penalties – um contra a Itália, pela falta sobre Cavani e outro, por mais uma gravíssima falta de Suarez que mais uma vez deu uma dentada a um adversário, Chielini.  Este repetido comportamento antropófago de Suarez tem de ter uma punição exemplar da FIFA, ainda maior do que a da Football Association. Não pode ser tolerado. Sobretudo de uma estrela do futebol mundial.

Note-se que a participação dos árbitros auxiliares tem sido muito superior à dos seus líderes em campo.

 

A maior vergonha para nós, portugueses

Como Ronaldo bem afirmou ontem: “esta nossa seleção não é uma equipa de topo e … só por um milagre nos apuraremos…”.

Claro, como pode uma seleção destas, debaixo de um treinador destes, condicionado por uma inacreditável estrutura da FPF, pode estar num ilusório e ridículo quarto lugar do ranking da FIFA? Só por piada. De mau gosto.

Mas, sobre isso, qualquer que sejam os resultados, as inevitáveis contas sobre os resultados dos outros, e a mais do que provável eliminação, escreverei depois. Da mesma forma, quer passemos – muito improvável – aos oitavos ou não.

Há muito a mudar, como dizia o antigo selecionador nacional António Oliveira no domingo, no impecável “Play Off” da SIC Noticias, apontando o dedo ao diretor das seleções nacionais na FPF. Nem a entrevista coletiva de hoje, sobretudo de Humberto

Coelho e do médico-chefe da seleção mudou a minha opinião. Nem a de António Oliveira, creio eu…

sexta-feira, 20 de junho de 2014


RARIDADES DE AUTOMOBÍLIA em GARDEN SALE

21 de JUNHO (amanhã, sábado) – 10 às 17h

PARQUE MARECHAL CARMONA – CASCAIS

BENEFICENTE – Receita total para a AUPC- Associação Unidos pela Caridade.

Miniaturas, posters, troféus, escultura Ferrari rara, porta-chaves de várias marcas, livros, quadros, de outras peças de colecionador – um pouco da história do automobilismo mundial e nacional.

terça-feira, 17 de junho de 2014


MICHAEL SCHUMACHER:
O compromisso da Imprensa é com a ética e o público
Por Americo Teixeira Jr. – “O fato de Michael Schumacher ter saído do coma e ser transferido para um hospital na Suíça, como anunciado na manhã desta segunda-feira, repercutiu no mundo todo e ampliou ainda mais a já gigantesca onda de amor em relação a ele. Mas ao mesmo tempo abriu uma espécie de “temporada de caça”.
É absolutamente legítima a decisão da família em blindar tudo o que se refere ao atual momento do ex-piloto de Fórmula 1, incluindo aí as raras e evasivas declarações públicas. Claro que a dor tem de ser respeitada e o direito a privacidade, inviolável. Ninguém poderá criticar qualquer pessoa que tenha tido algum tipo contato com o ídolo da Ferrari, desde o dia 29 de dezembro passado para cá, que venha a optar pelo silêncio.
Só que toda moeda tem dois lados e, neste caso, a outra face é representada por milhões de pessoas no mundo que vibraram com suas performances esportivas e que, agora, unem pensamentos positivos e orações para que se recupere. É com esse público que está o compromisso da imprensa.
O respeito à família está em nunca, jamais, em tempo algum abrir mão de recursos éticos para obter a notícia. Mas o respeito para com o público está em buscar o maior número possível de informações sobre o estado de Michael Schumacher, sempre com profissionalismo e independentemente da vontade de poucos.”
 
Deveres e direitos
Não piodia estar mais de acordo com o texto do meu colega Américo Teixeira Jr no seu blog: é também dever da família dar informações detalhadas sobre o estado de Schumi, pois o prestígio e a popularidade dele estão baseados na repercussão que ele sempre teve em todos os adeptos do automobilismo desportivo no mundo inteiro. Foram eles – e, claro, as performances do piloto – que permitem, agora, à família ter o socego financeiro para encarar o longo tratamento e o futuro apoio a Michael. Além, claro, do seguro.
Por isso, não é justo que o público que o projetou e que justificou os chorudos ionvestimentos dos patrocinadores dele, se veja privado de informações concretas sobre o estado do seu ídolo. Sempre de forma a zelar pela privacidade do indivíduo e da sua família, como os bons jornalistas sabem fazer. E, para que não haja alguém a extravasar esses limites éticos, o melhor seria, claro, que a assessoria de imprensa de Schumi que há seis meses não cumpre o seu dever com a media internacional e com o povo, cumpra o seu dever. De informar.

domingo, 8 de junho de 2014


FÓRMULA 1: GP do CANADÁ

RICCIARDO E RENAULT ACABAM com MONOTONIA

Não me canso de referir uma frase de Bernie Ecclestone, quando há uns tempos acusavam a Fórmula 1 de monotonia, de poucas ultrapassagens: “Isto não é como o basketball, mas como o futebol; na F1 marcam-se golos e não pontos…”.

Quando hoje já me preparava a lembrar de novo quanto a F1 evoluiu de forma artificial para criar espetáculo e ao mesmo tempo roubava, com a sua cada vez maior complexidade tecnológica a comparação direta entre as técnicas de pilotagem daqueles que devem fazer a diferença e continuam a ser o elemento mais importante deste desporto – os pilotos – tivemos, todos, a grata satisfação de ver um final do sempre emocionante GP do Canadá quase a desmentir-me.

Com cinco e seis pilotos a disputarem a primeira posição nas últimas 12 voltas, houve – finalmente, depois de seis provas – emoção a rodos, mas, repito, de uma forma – para mim – artificial.

Primeiro, inspirado no problema de pneus justamente neste circuito Gilles Villeneuve, em 2010, Ecclestone “pediu” à Pirelli que fizesse pneus que tivessem de ser trocados idealmente várias vezes durante uma prova, provocando artificiais mudanças nas posições dos carros. Depois, o novo regulamento técnico deste ano colocou aos pilotos uma enormidade de condicionantes tecnológicas que torna muito difícil separar o que é uma excelente pilotagem de melhores recursos em várias áreas de uso e poupança de energia e combustível, onde e como carregar as baterias dos dois motores elétricos, onde e como poupar ou escolher os tipos de pneus disponíveis, ou como dominar o muito maior binários dos notos motores turbo V6 à saída das curvas..

Dirão muitos que a pilotagem hoje é este ano muito diferente do que há dez ou vinte anos; muito mais complexa, para o piloto e, talvez por isso, tão mais difícil de avaliar quem é melhor piloto.

Por outro lado, ao consultar o meu amigo David Wood, grande engenheiro de motores de competição, sobre o domínio até esta tarde dos Mercedes, ele esclarece-me que foi a marca alemã quem, até agora, conseguiu – sobretudo por ter debaixo da sua responsabilidade, simultaneamente motores e chassis – as melhores soluções entre aerodinâmica, arrefecimento e conjugação com os elementos de geração e armazenagem de energia. Isso deixou-me muito mais satisfeirto – dentro da minha escola de F1, em que o elemento humano (piloto ou, agora, engenheiros) é o mais importante.

 

O piloto continua a ser muito importante

Hoje viu-se, com Rosberg – versus Hamilton – ou com Perez, comparado com seu colega na Force India, ou mesmo entre o estreante Daniel Ricciardo e o campioníssimo Vettel, que ainda resta muito espaço para a técnica de pilotagem sobressair, embora agora de forma diferente, com atributos muito mais complexos, repito. Por isso, Adrian Newey disse há dias que Vettel não se tinha ainda adaptado bem ao novo carro, às novas tecnologias, a que, parece, seu jovem companheiro de equipa terá assimilado a se adaptado mais rapidamente.

A forma como Perez – e outros – mais uma vez souberam poupar os seus pneus e o exibição notável de Rosberg nas últimas voltas, conseguindo manter o 2º lugar com um Mercedes com problemas de potência e de travões, mostraram que o piloto continua a fazer a diferença. Mas apenas em situações extremas como foram as de hoje.

Também o erro mútuo de Perez e Massa na penúltima volta mostrou que por muito que as marcas consigam cominar as novas tecnologias, o fator humano é o que conta mais. Seja pelo piloto. Seja pelos engenheiros.

 

Renault turbo volta a ganhar

Numa corrida com 11 abandonos, o que é invulgar numa categoria conde a fiabilidade aumento enormemente nos últimos 20 anos – mesmo considerando que quatro foram por acidente –, a Renault conquistou o seu primeiro triunfo nesta nova era da F1. O primeiro de um V6 Turbo desde o GP de Detroit de 1986 (Ayrton Senna – Lotus-Renault turbo), no último ano da sua participação na F1 com motores turbo.

Será que Adrian Newey e a Renault conseguirão dar nova vida à Fórmula 1. Esperemos que sim porque domínio de uma marca ou concorrente nunca foi bom para qualquer modalidade.