Ee blog terá, pelo menos duas vezes por semana, as minhas opiniões e comentários sobre desporto – sobretudo automobilismo – e sobre a vida nacional (portuguesa e brasileira) e internacional, com a experiência de 52 anos de jornalismo, 36 anos de promotor e 10 de piloto. Além de textos de convidados, e comentários de leitores.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014


O GRANDE FUTURO DE STANISLAS WRAWINKA

Depois deste demasiado prolongado interregno (de duas semanas) nas minhas habituais crónicas – que também utilizei para por um pouco em ordem a minha coleção de slides de Ayrton Senna que já estão a ser digitalizados para os partilhar convosco num lote de mais de 5.000 fotos, inclusive de outros fotojornalistas e mesmo de alguns amadores – retomo a regularidade destes meus comentários. E, apesar da extraordinária vitória de João Barbosa nas “24 Horas Rolex de Daytona”, de realçar a todos os níveis, sobretudo pela competitividade da corrida deste ano, retomo o mesmo tema com que comecei este blog a 10 de setembro último: ténis. Nessa minha primeira crónica escrevia: “Neste US Open pode prever-se o grande futuro do suíço Stanislas Wawrinka…”
Neste fim de semana assistimos uma das mais históricas finais de um Grand Slam – o KIA Australian Open, em Melbourne – entre o número um mundial Rafael Nadal e o suíco. Este encontro foi estatisticamente histórico por vários motivos:

- Depois de 26 sets consecutivos ganhos por Nadal a Wrawinka, este ganhou-lhe um set pela primeira vez – e logo o primeiro.

- Foi a primeira vez – em 13 encontros - que o suíço ganhou ao espanhol.

- Por coincidência, o novo treinador de Wawrinka – Magnus Morgan, que tem melhorado bastante o jogo e sobretudo o comportamento psicológico do suíço – também só à 13ª vez conseguira ganhar a outro número 1 mundial – Roger Federer.

- Foi a primeira vez que o mesmo tenista conseguiu no mesmo torneio ganhar aos dois primeiros do ranking mundial (Wawrinka eliminara Novak Djokovic nas meias finais).

- Quem entregou os prémios deste memorável final foi também Pete Sampras no 20º aniversário da sua vitória neste torneio.

- Pela primeira vez, Roger Federer deixa de ser o número 1 suíço, já que, agora, Wrawinka passa a 3º do ranking mundial e Federer a 8º.

 

Dúvida que persistirá: Sem lesão, teria Nadal perdido?

Claro que os muitos fãs de “Rafa” dirão sempre que ele só perdeu esta final porque uma lesão nas costas que o afastou do court pelos regulamentares seis minutos para atendimento médico no final do 3º jogo do 2º set (2-1 para Wrawinka) e que lhe causou bastante sofrimento durante o resto do encontro. Bastou ver os lentos primeiros serviços do espanhol (jamais acima de 160km/h, enquanto Wrawrinka fez 19 azes contra apenas um de “Rafa”) depois da lesão e olhar para o seu rosto para ver que jogou em sofrimento e bastante diminuído. Mesmo assim ainda ganhou um set (o 3º) ao seu amigo com quem costuma treinar.

Entendo que Nadal perdeu esta final com os erros cometidos no 7º jogo do primeiro set quando – a perder por 4-2 – desperdiçou três “break points” com Wrawrinka a servir. Se tivesse ganho esse jogo iria servir com uma desvantagem de apenas 4-3 e toda a história do jogo poderia ter sido outra, lesão ou não lesão. Até porque o suíço cometeu a maior parte dos seus erros justamente quando Nadal estava inferiorizado, e, por isso, perdeu o 3º set.

No entanto, não pode haver dúvidas de que Wrawrinka não só “entrou a matar” nesta final usando bem a vantagem de começar o encontro a servir, como teve uma exibição sensacional, mostrando maior maturidade e um potencial enorme, mesmo muito grande, a ponto de eu – sem seguir de perto os meandros do ATP – atrever-me a prognosticar que este jovem de 28 anos com um corpo que ninguém poderá dizer ser de um atleta de alta competição, é um potencial número um mundial, caso Nadal e Djokovic, “se distraiam” ou tenham algum problema.

Como dizia – e muito bem – um dos competentes e conhecedores comentadores do Eurosport, a sua esquerda a uma mão não só é a melhor de todos os tempos, como, digo eu agora, pode por em causa o “back hand” a duas mãos, embora esta seja preferivelmente adotada atualmente para todos os jovens iniciantes. A certeza, a rapidez das suas esquerdas cruzadas são únicas no ténis mundial. Segundo o comentador Eurosport, isso também se deve à sua pega muito fechada.

Com desfecho inesperado (3-1) para Wrawrinka, esta foi uma final para não esquecer durante muito tempo. Um grande espetáculo graças à tenacidade, à garra de Nadal na sua decisão de não abandonar o encontro, ganhar o 3º set e manter-se até final com bastante sacrifício que se viu nas suas lágrimas.

Só lamentei que a organização de Melbourne não se tivesse lembrado de pedir ao grande, ao enorme, Rod Laver – de quem este court principal tomou o nome, Rod Laver Arena – de também estar junto aos que entregaram os troféus a estes dois novos gigantes do ténis mundial. Ainda me lembro bem das suas vitórias em Wimbledon que cobri, então como correspondente de “A Bola” em Londres, e me fascinaram a ponto de o considerar ainda o “Melhor Tenista de Todos os Tempos”, mesmo considerando o tão diferente ritmo e velocidade do ténis atual.

Este australiano de 75 anos é ainda o único a ganhar todos os torneiros do Grand Slam em dois anos consecutivos, e, caso, como aconteceu com Ken Rosewall, não tivesse sido impedido de jogar em Grand Slams de 1963 a 1967 por ser profissional (nessa época os grandes torneios eram reservados a amadores). Esta proibição foi retirada em 1969, quando se iniciou a “Era Open”.

Um realce final para o árbitro português desta final – Carlos Ramos, que soube “domar” com serenidade e tato o momento nervoso de Wawrinka quando Nadal saiu do court para tratamento médico. Depois de ter sido o “chair umpire” das finais dos Jogos Olímpicos e de Wimbledon este é mais um português de quem nos devemos orgulhar.

 

Próximas crónicas em continuação de temas suspensos

Sei que estou em falta para convosco em, pelo menos a continuação dos seguintes temas:

- 10 anos de Historic Festivals em Portugal (publicados apenas os dois primeiros “capítulos” dos prováveis cinco, ou mesmo seis).

- Os salários milionários dos desportistas, e, agora, os meus comentários sobre a excelente série de três reportagens – “Fora de Jogo” – e respetivos debates, a respeito das dificuldades económicas de muitos jogadores de futebol após o seu abandono dos relvados.

- Fotos inéditas de Eusébio (e Pelé) feitas por mim em Inglaterra nos anos sessenta.

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