Ee blog terá, pelo menos duas vezes por semana, as minhas opiniões e comentários sobre desporto – sobretudo automobilismo – e sobre a vida nacional (portuguesa e brasileira) e internacional, com a experiência de 52 anos de jornalismo, 36 anos de promotor e 10 de piloto. Além de textos de convidados, e comentários de leitores.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

A EVOLUÇÃO DOS RALIS
César Torres – a maior figura de todas
Na semana passada, ainda no hospital, convalescendo de uma pneumonia fora de tempo e de tudo, tive uma boa prova de resistência – uma conversa telefónica de quase uma hora. Com um amigo, ex-colaborador meu, que vem transformando-se num novo bom jornalista e é exemplo de como a dedicação – nem sempre reconhecida – e paixão podem superar a falta de formação profissional (neste caso, de jornalismo). O “papo” foi com o José Luis Abreu.
Referia ele que no novo caderno histórico do Autosport tencionam focar as contribuições de algumas figuras que já não estão entre nós, e contar algumas estórias curiosas dos “aceleras” do antigamente.
Claro que a primeira será – e muito bem – César Torres, indiscutivelmente quem mais contribuiu para a o enorme prestígio do nosso automobilismo, na sua ascensão no seio da FIA até à Vice-Presidência. Claro que para tal usufruiu, com grande sentido de oportunidade e visão, dos recursos – sobretudo logísticos que a TAP lhe proporcionou. Inicialmente – em 1965 – o TAP era um rali para os funcionários. Mas César depressa o transformou num grande evento internacional – o melhor do mundo – e com isso veio o merecido prestígio.
No que foi ajudado e muito – note-se – por sua mulher Teresa e por toda a equipa que montava e geria a prova, sobretudo os clubes de todos os cantos do país.
No entanto, Cesar foi genial a usar os meios à sua disposição para trazer a Portugal dirigentes de todo o mundo. É essa visão que por vezes falta aos dirigentes.

Os pioneiros escandinavos
No entanto, como já escrevi, e apontei ao Zé Luis, para que este sucesso do César fosse possível, foi necessário que outros, antes, mostrassem o caminho da revolução doa ralis que não passavam de entediantes provas de estrada de regularidade absoluta decididas em “slaloms” ridículos para alguns ralis até com estatuto FIA de Campeonato da Europa, como foi, por exemplo, o Rali Internacional de Portugal, em 1964.
No entanto, sobretudo os escandinavos – desde o início da década de ’50 – e depois os ingleses lembraram-se das maravilhosas e desafiantes estradas de terra em terrenos particulares para a usar para trechos competitivos com médias mais elevadas às que eram regulamentares nas vias públicas europeias. Começava a grande resolução das provas de estrada.
Claro que na América do Sul não havia essas restrições na via pública e as “carreteras” floresceram, sobretudo na e a partir da Argentina – razão pela qual as provas de estrada se desenvolveram muito mais do que, por exemplo, no Brasil. Mas isso será tema para outra crónica muito curiosa e inédita.
No entanto ainda faltava muito para estar tudo … no ponto para os ralis se emanciparem e se tornarem realmente espetaculares, apesar dos clássicos Spa-Roma-Liège e a Coupes des Alpes, ainda desafiarem o descente tráfego rodoviário.

A visão de Carlos Fonseca
No entanto, houve em Portugal – no Norte, onde mais? – quem não esperasse o começo da nova década para dar o passo seguinte na evolução dos ralis – o saudoso Eng. Carlos Fonseca, líder do “Estrela e Vigorosa Sport”.
No Rali da Montanha de 1952, ele simplesmente visualizou uma oportunidade de ouro: usou um trecho de estrada muito sinuoso, com bom declive, de terra escorregadia que já era e ficou para sempre famoso – o “Cavalinho” – para realizar uma dissimulada Prova Especial de Classificação. A primeira na história dos ralis portugueses.  
Como me contou o seu amigo José Guilherme Pacheco, quando eu escrevia o respetivo capítulo da “História do Automobilismo Português”:
“Tirando proveito das boas relações que tínhamos com o Comandante da GNR de Amarante – um entusiasta dos automóveis – conseguimos fechar um troço da EN101, entre o Cavalinho o Alto Quintela, com 10 km. A média imposta era a permitida – 50 km/h.”
E não era preciso mais nessa época. Bastou colocar controlos horários nesse trecho sinuoso e escorregadio para que todos penalizassem. E, assim estabeleceu-se uma classificação baseada em pressupostos de competição de performance. Tudo com os requisitos de segurança graças ao fechamento da estrada ao trânsito normal.
Foi o primeiro grande passo para a competitividade e evolução dos ralis em Portugal.
Por isso, e por todo o trabalho que fez no Circuito de Vila do Conde, entendo que o simpático Carlos Fonseca foi a terceira figura mais importante da história do automobilismo português, pelo menos da segunda metade do século passado.
Faltava agora dar mais dois ou três empurrões finais para os ralis serem o que são hoje em Portugal e em todo o mundo. Será a crónica de amanhã.

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