Ee blog terá, pelo menos duas vezes por semana, as minhas opiniões e comentários sobre desporto – sobretudo automobilismo – e sobre a vida nacional (portuguesa e brasileira) e internacional, com a experiência de 52 anos de jornalismo, 36 anos de promotor e 10 de piloto. Além de textos de convidados, e comentários de leitores.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

T.I. VENCEM CRIMINALIDADE


Volto a este meu blog depois de três anos e meio. Impunha-se, pois a estória que tenho para vos contar merece. Pelo inusitado mesmo para quem está já habituado às “excentricidades” das novas tecnologias e procura manter-se minimamente atualizado. Mas, não o suficiente…

O gigantesco mundo paulistano
Era uma vez um jornalista, ex-piloto, que parece não ter aprendido com os mais de 15 anos de vida na grandiosa metrópole que é São Paulo. Enorme em tamanho, em cultura, em vida, em profissionalismo. Mas, “Sampa” também era, e continua a ser, consoante o Governo do Estado de S. Paulo, responsável pela segurança pública, um paraíso para os ladrões de automóveis. Embora sem os níveis de bandidagem do Rio de Janeiro, claro.
Claro que o mercado automóvel de São Paulo – o maior da América Latina – proporciona campo de fértil escolha. No entanto, das duas vezes que fui assaltado à mão armada dentro de um carro, não me deixaram apeado. Quem sabe se, felizmente, esses dois carros não eram apetecíveis…
São Paulo é outro mundo. Por isso tanto estranhei quando regressei para Cascais, há três décadas. Até podia deixar o carro na rua… Por vezes até o achava de manhã, aberto… E jamais fiquei apeado...  fiquei, isso sim, mal habituado…

Nova realidade cascaense?
Até à semana passada, quando o meu BMW cabrio sumiu à porta de casa.
Com uma PSP cada vez com menor capacidade económica na esmagadora maioria dos concelhos (recursos logísticos) a sua resposta a problemas destes não pode, claro, ser de acordo com as necessidades individuais.
No meu caso, felizmente que se tratava de um BMW recente, equipado de série como todos os demais desde 2014, do sistema Teleservices, o que permite, bem como os carros com equipamento de navegação, ao departamento de segurança para clientes na BMW AG, em Munich, rastreá-los via satélite em casos de roubo ou de segurança pública efetivamente comprovados oficialmente pela polícia local.
E, assim, o crédulo jornalista, confiante na segurança no seu ambiente urbano cascaense – apesar dos recentes casos de tentativas de furto de automóveis nas redondezas – passou a ser testemunha da utilidade deste Teleservices BMW e da eficiência das autoridades policiais.

Tecnologia vence ladroagem
Dois dias depois de eu ter alertado o concessionário da região com comprovativo da PSP, os serviços da marca alemã contataram as autoridades portuguesas informando que o cabrio se encontrava estacionado numa determinada rua de um tal bairro central de Cascais.
Há uns anos isto “não lembrava o careca”… Mesmo hoje, na era dos GPS, custa a crer. Principalmente com um sistema instalado em todos os carros de uma marca, de série, sem ser um específico aparelho rastreador, dos que vemos nos filmes policiais. Além da BMW poucas outras marcas – Porsche é uma delas – proporcionam aos proprietários dos seus carros de série serviço idêntico de alerta, sem ser necessário ter instalado um telemóvel. Significativo, no entanto (pelo que isso representa sob o aspeto negativo social e de segurança), que o mercado português seja um dos muito poucos em que este equipamento é de série.
Voltando a Cascais, informada, a PSP local enviou agentes para o local e retiveram o meu cabrio, que foi depois rebocado para outra esquadra com área coberta, a fim de ser feita a indispensável peritagem das impressões digitais e/ou dados biométricas dos meliantes.
Igualmente surpreendente para mim, foi a rapidez de todo o processo: a informação da BMW AG foi dada, segundo fui informado, na sexta-feira seguinte, no final da manhã – apenas dois dias depois –, e na segunda-feira de manhã o carro estava à minha disposição. Ao contrário do que já aconteceu com outros proprietários de veículos roubados, de acordo com o que já todos vimos na TV, o cabrio foi-me entregue sem demoras na esquadra da PSP da Parede.
Este episódio fica também marcado pela forma como os vários agentes da PSP mostraram empatia com o cidadão que foi alvo de uma realidade que eles estão impossibilitados de estancar na totalidade por falta de recursos. Seria excelente que o comportamento dos agentes das várias autoridades tivesse sempre esta forma afável e compreensiva, deixando para trás o complexo de “ótoridade”.

terça-feira, 24 de junho de 2014


MUNDIAL NO BRASIL: VERGONHAS SEM FIM

Já editei e publiquei dois livros sobre o assunto, com texto pesquisado e escrito brilhantemente por um dos mais conhecedores jornalistas brasileiros, José de Almeida Castro, e comecei a escrever sobre futebol em janeiro de 1961.

Creio que nunca na história dos Campeonatos do Mundo de Futebol, se terá passado tanta vergonha. Generalizada. Com responsabilidade de tanta e tão variada gente que atá já se terá tornado banal, esperada, infelizmente passada despercebida ou merecedora do alheamento do povo, dos adeptos que, como os jogadores são os principais atores deste fenómeno social. Tão mundial que está à mercê da ganância, da politicagem, da malandragem, da corrupção, como se vê a toda a hora. Em vários países. Sobretudo nas instâncias últimas do jogo – a FIFA.

 

12 estádios – para quê?

Tudo começa na loucura da FIFA ter imposto a existência de 12 estádios, desde Porto Alegre a Manaus, Fortaleza e Natal. Pergunto – e respondo, como promotor de eventos: não dava realizar este mundial com, no máximo, nove estádios? Claro que dava, pois, por exemplo, os de Cuiabá, Curitiba, Manaus e Natal têm esta semana o último dos seus quatro jogos. Realizar jogos no mesmo estádio com dois dias de intervalo é viável. Mais difícil para quem faz o calendário, mas totalmente possível.

Fazer um estádio em Manaus que custo € 200 Milhões para quatro jogos do mundial? E depois do mundial – como vai suceder ao de Brasília com custo semelhante – para receber a pífia média de espetadores dos jogos estaduais que não chega a 500 espetadores, segundo peça da revista Veja? Mas o que isso importa à FIFA?... à semelhança da UEFA, nada. Olhem para os estádios do Europeu 2004, em Portugal. Para que serviram os estádios de Aveiro e Leiria. E até mesmo o de Faro? Para aumentar a nossa dívida e para encher os bolsos das construtoras. E agora? Para o continuarmos a pagar, a sua manutenção.

Uma vergonha. Que está a ser paga pelo povo brasileiro o povo pagar, carente de melhor educação, melhores infraestruturas de saúde e de tudo o mais. Como tem justamente reclamado e que – espanto meu – pouco se manifestou durante o campeonato, fruto da repressão policial.

Claro que 12 estádios, para servir o clientelismo estadual, e para encher os bolsos da FIFA, das construtoras apoiantes dos políticos brasileiros e de muitos intermediários.

Por isso, nada melhor que agora eleger para senador pelo Estado do Rio de Janeiro, Ronaldo Fenómeno, que teve frases sensacionais como “cacete neles”, referindo-se ao povo manifestante, e que “mundial não faz em hospitais, mas em estádios”.

Vergonha – mais uma – para a política brasileira.

 

Horários inacreditáveis

Que vergonha marcarem-se jogos para as 17h locais em Manaus, com temperaturas e humidade elevadíssimas (segundo o médico responsável pela seleção nacional, jamais superiores a 27º, o que desmente todos os jornalistas internacionais). Como é possível um jogo entre dois campeões mundiais (Uruguai e Itália) que decidiria o afastamento de um deles ter sido marcado para Natal, para as 13h locais – com iguais condições atmosféricas da capital amazonense, onde a Itália já tinha jogado (outro absurdo)?

As audiências televisivas na Europa seriam muito menores se os jogos fossem mais tarde? E, se fossem um pouco menores? Os jogos, os espetáculos – que são o que interessa – teriam certamente sido muito melhores pois os “palhaços” a serviço das seleções e da FIFA não teriam de suportar condições tão adversas. Claro que sabemos que, por vezes, como o médico da seleção portuguesa hoje apontou, a temperatura em Sevilha pode ser igualmente elevada. Mas, a humidade, nunca. E, nesses dias de verão andaluz intenso os jogos disputam-se à noite.

Mas, o bando sob comando do Sr Blatter, e os subservientes Comitês Organizativos (agora o brasileiro) ao seu serviço têm outros interesses como o vêm demonstrando há muitos anos. Inclusive – embora em muito menor grau – já desde a presidência de João Havelange.

 

Arbitragens lamentáveis

Assisti até agora a todos os jogos deste mundial. Não houve um em que não fosse deixado de marcar uma penalidade máxima e/ou ~tomada uma decisão errada na amostragem (ou não) de um cartão vermelho. Sempre, claro, com consequente influência na atuação das equipas e no resultado.

Hoje, mais uma vez, o cartão vermelho ao italiano Marchisio foi forçado, enquanto faltaram as marcações de dois penalties – um contra a Itália, pela falta sobre Cavani e outro, por mais uma gravíssima falta de Suarez que mais uma vez deu uma dentada a um adversário, Chielini.  Este repetido comportamento antropófago de Suarez tem de ter uma punição exemplar da FIFA, ainda maior do que a da Football Association. Não pode ser tolerado. Sobretudo de uma estrela do futebol mundial.

Note-se que a participação dos árbitros auxiliares tem sido muito superior à dos seus líderes em campo.

 

A maior vergonha para nós, portugueses

Como Ronaldo bem afirmou ontem: “esta nossa seleção não é uma equipa de topo e … só por um milagre nos apuraremos…”.

Claro, como pode uma seleção destas, debaixo de um treinador destes, condicionado por uma inacreditável estrutura da FPF, pode estar num ilusório e ridículo quarto lugar do ranking da FIFA? Só por piada. De mau gosto.

Mas, sobre isso, qualquer que sejam os resultados, as inevitáveis contas sobre os resultados dos outros, e a mais do que provável eliminação, escreverei depois. Da mesma forma, quer passemos – muito improvável – aos oitavos ou não.

Há muito a mudar, como dizia o antigo selecionador nacional António Oliveira no domingo, no impecável “Play Off” da SIC Noticias, apontando o dedo ao diretor das seleções nacionais na FPF. Nem a entrevista coletiva de hoje, sobretudo de Humberto

Coelho e do médico-chefe da seleção mudou a minha opinião. Nem a de António Oliveira, creio eu…

sexta-feira, 20 de junho de 2014


RARIDADES DE AUTOMOBÍLIA em GARDEN SALE

21 de JUNHO (amanhã, sábado) – 10 às 17h

PARQUE MARECHAL CARMONA – CASCAIS

BENEFICENTE – Receita total para a AUPC- Associação Unidos pela Caridade.

Miniaturas, posters, troféus, escultura Ferrari rara, porta-chaves de várias marcas, livros, quadros, de outras peças de colecionador – um pouco da história do automobilismo mundial e nacional.

terça-feira, 17 de junho de 2014


MICHAEL SCHUMACHER:
O compromisso da Imprensa é com a ética e o público
Por Americo Teixeira Jr. – “O fato de Michael Schumacher ter saído do coma e ser transferido para um hospital na Suíça, como anunciado na manhã desta segunda-feira, repercutiu no mundo todo e ampliou ainda mais a já gigantesca onda de amor em relação a ele. Mas ao mesmo tempo abriu uma espécie de “temporada de caça”.
É absolutamente legítima a decisão da família em blindar tudo o que se refere ao atual momento do ex-piloto de Fórmula 1, incluindo aí as raras e evasivas declarações públicas. Claro que a dor tem de ser respeitada e o direito a privacidade, inviolável. Ninguém poderá criticar qualquer pessoa que tenha tido algum tipo contato com o ídolo da Ferrari, desde o dia 29 de dezembro passado para cá, que venha a optar pelo silêncio.
Só que toda moeda tem dois lados e, neste caso, a outra face é representada por milhões de pessoas no mundo que vibraram com suas performances esportivas e que, agora, unem pensamentos positivos e orações para que se recupere. É com esse público que está o compromisso da imprensa.
O respeito à família está em nunca, jamais, em tempo algum abrir mão de recursos éticos para obter a notícia. Mas o respeito para com o público está em buscar o maior número possível de informações sobre o estado de Michael Schumacher, sempre com profissionalismo e independentemente da vontade de poucos.”
 
Deveres e direitos
Não piodia estar mais de acordo com o texto do meu colega Américo Teixeira Jr no seu blog: é também dever da família dar informações detalhadas sobre o estado de Schumi, pois o prestígio e a popularidade dele estão baseados na repercussão que ele sempre teve em todos os adeptos do automobilismo desportivo no mundo inteiro. Foram eles – e, claro, as performances do piloto – que permitem, agora, à família ter o socego financeiro para encarar o longo tratamento e o futuro apoio a Michael. Além, claro, do seguro.
Por isso, não é justo que o público que o projetou e que justificou os chorudos ionvestimentos dos patrocinadores dele, se veja privado de informações concretas sobre o estado do seu ídolo. Sempre de forma a zelar pela privacidade do indivíduo e da sua família, como os bons jornalistas sabem fazer. E, para que não haja alguém a extravasar esses limites éticos, o melhor seria, claro, que a assessoria de imprensa de Schumi que há seis meses não cumpre o seu dever com a media internacional e com o povo, cumpra o seu dever. De informar.

domingo, 8 de junho de 2014


FÓRMULA 1: GP do CANADÁ

RICCIARDO E RENAULT ACABAM com MONOTONIA

Não me canso de referir uma frase de Bernie Ecclestone, quando há uns tempos acusavam a Fórmula 1 de monotonia, de poucas ultrapassagens: “Isto não é como o basketball, mas como o futebol; na F1 marcam-se golos e não pontos…”.

Quando hoje já me preparava a lembrar de novo quanto a F1 evoluiu de forma artificial para criar espetáculo e ao mesmo tempo roubava, com a sua cada vez maior complexidade tecnológica a comparação direta entre as técnicas de pilotagem daqueles que devem fazer a diferença e continuam a ser o elemento mais importante deste desporto – os pilotos – tivemos, todos, a grata satisfação de ver um final do sempre emocionante GP do Canadá quase a desmentir-me.

Com cinco e seis pilotos a disputarem a primeira posição nas últimas 12 voltas, houve – finalmente, depois de seis provas – emoção a rodos, mas, repito, de uma forma – para mim – artificial.

Primeiro, inspirado no problema de pneus justamente neste circuito Gilles Villeneuve, em 2010, Ecclestone “pediu” à Pirelli que fizesse pneus que tivessem de ser trocados idealmente várias vezes durante uma prova, provocando artificiais mudanças nas posições dos carros. Depois, o novo regulamento técnico deste ano colocou aos pilotos uma enormidade de condicionantes tecnológicas que torna muito difícil separar o que é uma excelente pilotagem de melhores recursos em várias áreas de uso e poupança de energia e combustível, onde e como carregar as baterias dos dois motores elétricos, onde e como poupar ou escolher os tipos de pneus disponíveis, ou como dominar o muito maior binários dos notos motores turbo V6 à saída das curvas..

Dirão muitos que a pilotagem hoje é este ano muito diferente do que há dez ou vinte anos; muito mais complexa, para o piloto e, talvez por isso, tão mais difícil de avaliar quem é melhor piloto.

Por outro lado, ao consultar o meu amigo David Wood, grande engenheiro de motores de competição, sobre o domínio até esta tarde dos Mercedes, ele esclarece-me que foi a marca alemã quem, até agora, conseguiu – sobretudo por ter debaixo da sua responsabilidade, simultaneamente motores e chassis – as melhores soluções entre aerodinâmica, arrefecimento e conjugação com os elementos de geração e armazenagem de energia. Isso deixou-me muito mais satisfeirto – dentro da minha escola de F1, em que o elemento humano (piloto ou, agora, engenheiros) é o mais importante.

 

O piloto continua a ser muito importante

Hoje viu-se, com Rosberg – versus Hamilton – ou com Perez, comparado com seu colega na Force India, ou mesmo entre o estreante Daniel Ricciardo e o campioníssimo Vettel, que ainda resta muito espaço para a técnica de pilotagem sobressair, embora agora de forma diferente, com atributos muito mais complexos, repito. Por isso, Adrian Newey disse há dias que Vettel não se tinha ainda adaptado bem ao novo carro, às novas tecnologias, a que, parece, seu jovem companheiro de equipa terá assimilado a se adaptado mais rapidamente.

A forma como Perez – e outros – mais uma vez souberam poupar os seus pneus e o exibição notável de Rosberg nas últimas voltas, conseguindo manter o 2º lugar com um Mercedes com problemas de potência e de travões, mostraram que o piloto continua a fazer a diferença. Mas apenas em situações extremas como foram as de hoje.

Também o erro mútuo de Perez e Massa na penúltima volta mostrou que por muito que as marcas consigam cominar as novas tecnologias, o fator humano é o que conta mais. Seja pelo piloto. Seja pelos engenheiros.

 

Renault turbo volta a ganhar

Numa corrida com 11 abandonos, o que é invulgar numa categoria conde a fiabilidade aumento enormemente nos últimos 20 anos – mesmo considerando que quatro foram por acidente –, a Renault conquistou o seu primeiro triunfo nesta nova era da F1. O primeiro de um V6 Turbo desde o GP de Detroit de 1986 (Ayrton Senna – Lotus-Renault turbo), no último ano da sua participação na F1 com motores turbo.

Será que Adrian Newey e a Renault conseguirão dar nova vida à Fórmula 1. Esperemos que sim porque domínio de uma marca ou concorrente nunca foi bom para qualquer modalidade.

segunda-feira, 26 de maio de 2014


Carta aberta a Ronaldo: “você foi covarde ou oportunista?”

Por Luis Augusto Simon, o “Menon”,  no seu blog no UOL .

Pelo brilhantismo do meu ex-colega do Jornal da Tarde, de S.Paulo, não posso deixar de transcrever na íntegra este texto, com a devida vénia, já que retrata muito bem a lamentável postura de tantos brasileiros e portugueses, e … de tantos outros, mesmo desportistas, que deveriam dar o exemplo à sociedade de seu país:

 

Caro Ronaldinho, Ronaldo ou Fenômeno.

Nem sei como te chamar. Através de sua carreira, os nomes foram mudando. Eu me lembro da primeira vez em que te entrevistei – foram poucas, muito menos do que eu desejaria – no vestiário do Palmeiras, após um jogo contra o Cruzeiro. Você disse que estava pronto para a Copa de 94. E foi convocado. O início de uma carreira que maravilhou o mundo.

Olha, acho melhor chamá-lo de Ronaldo Nazário de Lima, afinal o assunto não é apenas futebol.

Ronaldo, os seus dribles são eternos. Desde aquela série imensa em um jogo contra o Barcelona até aquele que não se completou, em um abril de 2000. Aquele que deixou o mundo triste, calado, sofrendo. Você voltava após cinco meses de paralisação por uma problema no joelho, voltou e, ali pela esquerda do ataque da Inter, gingou diante de Fernando Couto e rompeu novamente o tendão do joelho.

E o seu oportunismo? Não era como Romário, que ficava ali quietinho na área, esperando a bola chegar. Com seu tamanho, não dava para passar despercebido, mas, como o Baixinho, foram muitas alegrias vindas de puro oportunismo, de saber estar no lugar certo na hora certa.

Pois é, Ronaldo Nazário de Lima, drible e oportunismo são fundamentais na vida de um artilheiro. São desprezíveis na vida de um cidadão.

Falo isso por causa de sua declaração de que tem vergonha dos atrasos nas obras da Copa. Que elas passam uma imagem ruim lá fora. Aquele velho papo de quem deseja agradar os de fora.

Ora, Ronaldo, você estava lá, no dia em que o Brasil ganhou o direito de sediar a Copa. Estava com Paulo Coelho, com Lula, com Aécio Neves e Eduardo Campos.

Você ao contrário deles, passou a ser membro do Comitê Organizador Local. Ronaldo, você é um dos responsáveis por tudo que envolve a Copa.

Ronaldo, você ganhou dinheiro com a Copa. Suas publicidades aumentaram. Você alugou sua casa para um figurão da Fifa, nem vou procurar no Google o nome dele, não interessa.

Ronaldo, que coisa feia!!!. Depois de ser o responsável, depois de faturar dinheiro, você estica o dedo e diz que “sente vergonha”.

Ah, quer dizer que você não é responsável por nada? Nadica de nada? O que está errado é culpa dos outros? Trabalhou com o governo, diz que está tudo errado e apoia Aécio Neves na eleição. Drible e oportunismo.

Ronaldo, eu não deveria me surpreender com suas idas e vindas.

Em 2009, você disse que não gostaria de ser relacionar com Ricardo Teixeira, uma pessoa de “duplo caráter”. Em 2012, disse que “ele é meu amigo e estou com ele no que precisar”, antes de Ricardo Teixeira ser obrigado a renunciar à CBF.

Você jogou no Barça e Real, na Inter e no Milan, se recuperou no Flamengo e assinou com o Corinthians.

Aliás, Ronaldo, você pensou que ao dizer que “os atrasos te dão vergonha” poderia atingir Andrés Sanchez, que foi seu parceiro na recuperação do Corinthians?

Ronaldo, no caso de Aécio vencer, você terá muitas chances de ser o Ministro dos Esportes. Mas, saiba que o Aécio estará de olho em você. Ele é neto de Tancredo, uma das grandes raposas da política brasileira. Como o avô, ele é desconfiado. Sabe que os que traem uma vez, traem sempre.

É questão de índole. De caráter. Ou, da falta de ambos.

domingo, 25 de maio de 2014


FINAL EMOCIONANTE DA CHAMPIONS
Para mim, apesar de não ter estado fisicamente presente no Estádio do SLB (já não o querem chamar da Luz?...), esta final de ontem foi das mais emotivas de sempre. Jamais tive um clube, como sócio, ou ferrenho defensor. Sempre me apaixonei pelo bom futebol e por ele sempre torci, qualquer que fosse a cor do emblema ou das camisas. Ontem nem sabia por quem torcer, já que, apesar de me sentir mais ligado ao Real pelo seu jogo mais tecnicista e atacante, sobretudo nas transposições, em que não tem igual no mundo pela sua velocidade mortífera, não podia deixar de admirar – mais uma vez – a garra, a determinação, o espírito de grupo, de entreajuda, de todos os jogadores do Athletic de Madrid. Parece que bebem e têm no sangue o espírito indomável de Diego Simeone, seu treinador.
E, no final, não consegui festejar uma vitória demasiado pesada do Real, que apenas retratou o tremendo desgaste físico e o natural banho de água gelada psicológico que foi fugir-lhes de repente – aos “Colchoneros” –, mais uma vez, como em 1974 na sua primeira final, frente ao Bayern de Munique, uma Champions que lhes parecia já sua, finalmente. Depois de uma temporada sensacional em que dominaram a Liga Espanhola e eram, nessa altura, a única equipa sem qualquer derrota nesta Champions. Foi duro, demasiado pesado, perder por 4-1. Mas, futebol é isto mesmo.
Repito o que já escrevi tantas vezes: “é apenas um jogo, mas a coisa mais importante do mundo”, para muita gente.
 
Reviver emoções e achar diferenças
Para mim, foi realmente especial pois de tão emocionante fez-me recordar as duas finais que o Benfica ganhou, em 1961, em Berne, frente ao Barcelona, ganhando por 3-2, Real, e em 1962, sobre o Real, que vencer por 5-3, onde eu estive presente, jovem aprendiz de fotojornalista dando os meus primeiros passos internacionais.
Fazendo na minha memórias os filmes desses dois jogos épicos das “águias” dirigidas pelo austero e brilhante Bela Guttmann, vejo como o futebol de então era tão diferente do atual. Muito mais lento. Incomparavelmente menos tático, embora os grandes treinadores esquematizassem o modo de jogar das suas equipas. Mas, sem os rasgos de brilhantismo que podem incutem nas equipas de hoje, mudando radicalmente posicionamentos de jogadores ou adaptando-os a posições diferentes para tirar maior partido individual e coletivo do jogo.
Como, por exemplo, Carlo Ancelotti fez ontem com as mudanças no segundo tempo, colocando os mais atacantes Marcello e Isco, e depois rendendo um Benzema nitidamente abaixo do seu melhor rendimento pelo mais combativo e fresco Morata. Só foi pena que não tivesse podido dar mais liberdade atacante a esse genial Modric’, um dos maiores médios da atualidade. Isso permitiu que Angel di Maria – já bastante cansado na sua nova posição que Ancelotti descobriu para ele, como um “número 10”, pudesse ocupar o flanco esquerdo, de onde ajudou a resolver a “goleada”.
Do outro lado, Simeone não teve recursos perfazer as substituições que a sua esgotada equipa necessitava para segurar o resultado proveniente de um frango de Casillas (como ele é deficiente a jogar com os pés e a sair dos postes, como Mourinho muito bem apontava).
E, assim, uma final histórica da Champions – a primeira entre dois clubes da mesma cidade – foi um tratado de futebol. Cheia de emoções e, como tantas outras, como aquela inigualável vitória do Man United, em Barcelona, em 1999, marcando os dois golos da vitória por 2-1 sobre o Bayern já nos descontos.
 
11 champions portugueses
Para nós, portugueses, além de ter sido sensacional receber uma final destas – para a economia e o orgulho nacional – temos de nos lembrar que além dos três portugueses que ontem se sagraram champions – CR7, Coentrão, e Pepe, apesar de não ter jogado – há na história, além das duas equipas encarnadas vencedoras da Taça dos Campeões Europeus, mais talento luso marcante nas conquistas de outas equipas estrangeiras: Paulo Sousa (Juventus, 1996 e Dortmund, 1997), Luis Figo (Real Madrid, 2002), Rui Costa, (AC Milan, 2003), Deco (Barcelona, 2006), Ronaldo e Nani (Man United, 2008) e Bosingwa, Paulo Ferreira e Raul Meireles (Chelsea, 2012).